Continuando com minha experiência como estudante internacional na New York University, logo após o início das aulas, começam também as dezenas de trabalhos para entregar.
Em um primeiro momento, quando vi que eu só teria 5 classes por semana, achei até pouco. Conversei com meu orientador que disse que 5 classes eram muito e que eu deveria fazer até menos. Decidi seguir com as classes que consegui e aproveitar esse suposto tempo livre que eu achei que fosse ter para até pegar um estágio na faculdade.
O que eu não estava esperando é que as aulas fossem ser tão difíceis e que eu fosse usar todo esse ‘tempo livre’ em plantão de dúvidas com residentes (ex-alunos que ajudam os alunos no meu curso da ITP) e horas extras nos escritórios dos professores. O meu mestrado é sobre tecnologias interativas e muitos dos softwares e ferramentas que usamos em aula são novos ou nenhum dos alunos nunca usou antes. As aulas são excelentes, porém sobre coisas que a maioria dos alunos nunca nem ouviu falar, muito menos usou e menos ainda programou. No final de cada aula, nos sentimos num mar de novas possibilidades, mas ainda super perdidos em como realmente usar essas tecnologias e em como usá-las para fazer o trabalho da próxima semana!
Redesenhar o logo da ITP foi uma das tarefas para a aula de Design 2D
O sistema de notas da ITP também é diferente do de muitos cursos. Não existem provas, apenas trabalhos. Além disso, os alunos ainda são julgados por participação em classe, presença nas aulas e lição de casa (e eu achando que nunca mais teria que fazer lição de casa novamente). Todos os estudantes precisam manter e atualizar um blog dentro dos servidores da ITP e é lá onde temos que publicar alguns dos nossos trabalhos, lições de casa e manter uma documentação dos cursos.
A maioria das aulas desse primeiro semestre pedem trabalhos para entregar toda a semana e esses trabalhos levam um mega tempo para serem feitos! Isso porque dessa vez não é apenas ter uma ideia sobre uma aplicação interativa e sim, além da ideia, é necessário produzir a aplicação e ela estar funcionando na próxima aula. Alguns trabalhos são mais digitais, onde criamos programas de computador, sites ou vídeos e animações. Outros pedem a produção de objetos reais.
Para produzir muitos dos trabalhos, usamos programas como o Processing, que é um software de programação para designers, ou seja, você escreve códigos e, depois disso, torce para que eles funcionem! Muitas vezes (na grande maioria das vezes) os meus códigos não funcionavam por conta de besteiras que eu nem ao menos sabia já que nunca havia programado antes. Uma vírgula fora do lugar pode mudar tudo!
Ler os livros e fazer os exemplos de exercícios dos livros;
Começar a fazer o trabalho para a próxima aula e ter problemas com os códigos ou uso de um dos softwares;
Entrar em uma das ‘help sessions’ (plantões de dúvidas) onde os residentes ajudam melhor os alunos a entenderem toda a matéria da aula anterior. Nesses plantões de dúvidas, os residentes são super didáticos explicando detalhadamente os assuntos que os professores passaram correndo, por falta de tempo;
Marcar uma hora para se encontrar com o professor. Por conta do grande número de alunos nos plantões, não dá tempo para os residentes responderem todas as dúvidas. Os professores disponibilizam ‘office hours’, que são horários que você pode marcar com o professor para ajudar a tirar as dúvidas;
Finalmente conseguir concluir o trabalho;
Publicar o trabalho no blog, ou mandar por email para o professor e apresentar na aula seguinte.
Imagina agora isso para 5 classes! É uma loucura e agora que eu entendi o que meu orientador tentou me avisar antes! Mas sinto que estou aproveitando ao máximo o curso que escolhi fazer e nunca aprendi tanto e em tão pouco tempo na minha vida inteira. A curva de aprendizado é gigantesca já que os professores exigem muito dos alunos e a cada semana estão nos dando feedback dos trabalhos.
Esse foi meu primeiro trabalho de Computação Física: uma bola de Cristal que mostra o seu humor. E funcionava de verdade! O projeto saiu até em uma citação no blog da revista de tecnologia MAKE.
Eu não imaginava que o mestrado seria tão puxado, mas percebo agora o porquê dos alunos internacionais terem que ser estudantes de tempo integral. Os cursos já são intensos mesmo para americanos, imagina para nós! Mesmo assim, com toda a quantidade gigantesca de trabalhos, eu estou adorando essa experiência e sinto que a cada dia aprendo o dobro do que eu sabia no dia anterior.
A grande quantidade de trabalhos também acaba afetando a qualidade e eu gostaria de ter mais tempo para fazer cada um deles. Mas acho que eles acabam sendo como experimentos sobre o que podemos ou não fazer com os softwares que estamos aprendendo a mexer. Nesse semestre, por exemplo, estou aprendendo a mexer com Final Cut, After Effects e DragonFrame para a aula de animação, HTML, CSS, JavaScript e Sinatra para a aula de Web, Illustrator e Photoshop na aula de Design 2D, Processing para a aula de ICM e Arduino e Max para a aula de Computação Física.
O Food Runners foi um projeto de web que criei onde os estudantes da ITP podem compartilhar suas dicas de onde comprar comida na região.
Muitos trabalhos ainda são em grupos e nos encontramos diversas vezes até decidirmos uma ideia para apresentar. É um processo um pouco mais exaustivo já que todos querem ter sua marquinha na criação de cada parte do projeto. Vou fazer um post dedicado a trabalhos em grupos contando ainda mais sobre essa experiência de colaboração internacional e com dicas de como trabalhar em grupo nesses casos.
Queria mostrar para vocês alguns dos projetos que criei nesse primeiro semestre, mas lembre-se também que é a primeira vez que uso a grande maioria desses softwares! O desafio é enorme e a cobrança dos professores com os alunos é super alta, mas isso acaba sendo muito bom no final já que aprendemos muito mais rápido, e essa é uma das grandes diferenças que estou sentindo em estudar em uma faculdade norte-americana.
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