À primeira impressão, monsieur Philippe parecia mais um parisiense aborrecido a reclamar de barriga cheia das mazelas da cidade (nunca entendi e espero passar a vida sem compreender por que bufam tanto por aqui). Havia no olhar um certo ar de quem não queria muito estar ali, não – o bom e velho jeitinho blasé, sabe?
Passadas três semanas de curso, descobri o outro lado do professor. E não dá para dizer que foi aos poucos, pois nosso convívio, além de diário, é intenso: são quatro horas de aula de segunda a sexta-feira, tempo mais que suficiente para conhecê-lo, não a fundo, mas perceber suas nuances, seu humor e sua personalidade.
Philippe é um francês típico, que enrola uma echarpe no pescoço com a mesma desenvoltura que nós, brasileiros, amarramos uma canga na cintura; que gosta de ser ouvido antes de ser questionado e discute a vida em tom existencialista e não hedonista.
Com ele ou a partir dele, passei a enxergar o parisiense com outros olhos; a máscara enfadonha que assusta ou repele quem vem de fora já me parece tão delicada quanto uma camada de mil folhas da Maison Angelina. E por trás daquela aparência “pâtisserie”, existe um povo que adora ser apreciado pelo refinamento – e que nós precisamos experimentar antes de encher a boca e dizer se o gosto é amargo ou azedo. Antes da prova final, Phillipe me ensinou à sua moda que parisienses são doces na essência.