O verão chegou antecipadamente em Londres e, com isso, minha empolgação também. Sou movida a calor e sol, e sempre quando acordo e vejo aquele solzão entrando pela janela, tenho vontade de aproveitar o dia e fazer mil coisas novas! Aqui em Londres parece que a cidade acontece no verão, todo mundo sai na rua, almoça no parque deitado na grama e não perde tempo dentro de casa. A cidade fica com outra energia quando os dias estão quentes. Bom…o verão daqui só começa mais para o final de junho, mas estamos tendo um verão meio antecipado agora, onde tem feito uns 25 graus por dia.
Com isso, eu tenho tido vontade de fazer coisas novas, conhecer gente e aproveitar melhor meus dias aqui. Incrível como meu humor muda! Daí um dia estava voltando da escola pra casa e sentei do lado de um bonitinho no ônibus. Percebi que ele estava me olhando, tipo interessado no livro que eu estava lendo ou nos lugares para onde eu olhava. Então resolvi, pela primeira vez na vida, fazer algo aqui que eu sempre fazia no Brasil: estabelecer contato com um estranho através de um bilhete!
Foi praticamente uma experiência cultural, porque morri de medo já que não fazia ideia de como ele ia reagir. Brasileiro é super amigável e gosta dessas coisas mas os ingleses que são mais fechados… Será que iam estranhar? Sem pensar muito, peguei um papel dentro da minha bolsa e escrevi: ‘O que você está ouvindo?’ – pois ele estava usando fones de ouvido. Estendi a mão e dei pra ele, já junto com a caneta para ele responder. Ufa! Que medo. Nessas horas se eu pensar muito eu não faço, então meio que dei, sem hesitar.
Ele pegou o papel, leu mas não sorriu. Demorou um pouco para começar a escrever, posicionou a caneta e olhou pra mim com um sorriso. Eu pensei ‘Ufa! Sorrir é sinal de ele que abriu as portas’. Então ele escreveu e me devolveu. A resposta foi o nome de uma banda que eu não conhecia e um ‘e você?’. Escrevi a banda que estava ouvindo e devolvi pra ele. Daí ele quis começar a conversar em voz alta mesmo, então os 2 tiraram os fones.
Bom, ele era inglês. Isso dificultou um pouco as coisas porque por mais que eu já esteja aqui há bastante tempo, falar com ingleses mais novos é sempre um desafio. Eles falam muito rápido, com um sotaque carregado e se falam gírias então, piorou. Tive que me esforçar para manter a conversa durante as chacoalhadas do ônibus. O nome dele era Rob, ele tinha 29 anos e trabalhava com algo relacionado a computador. Digo ‘algo relacionado’ porque tudo que eu entendia mais ou menos eu não ficava perguntando pra não deixar a conversa chata. Ficamos conversando por um tempão e ele me contou várias coisas da vida dele, inclusive que ele já tinha namorado uma brasileira e ela era ‘louca’, hahaha. Ele quis me ensinar algumas gírias inglesas para ficar menos difícil de entender uma conversa com caras tipo ele, já que eu tinha falado que, às vezes, pra mim era super difícil. Uma hora ele chegou e falou assim: ‘Você precisa arranjar um namorado inglês!’ e eu ‘Por quê? Pra melhorar meu inglês?!’ e ele ‘Não, seu inglês é ótimo!’ – acho que esse foi o momento em que ele tentou me xavecar e eu não entendi, então o assunto não foi pra frente. Não estou acostumada com xavecos sutis e acabei dando uma bobeada. Daí, mesmo tendo esperado chegar no meu ponto para descer do ônibus, quando saímos, ele, respeitosamente, me cumprimentou com um aperto de mãos e cada um foi para um lado diferente. Não trocamos telefone nem outro tipo de contato, mas confesso que fiquei feliz com a experiência. Me deu vontade de fazer mais vezes e tentar me aproximar mais dos ingleses!
Vocês teriam coragem de fazer algo assim? Acho que quando estamos fazendo intercâmbio precisamos de umas loucurinhas para dar mais chance ao acaso. Quem sabe eu não acabo encontrando o Rob no mesmo ônibus e marcamos um pint uma hora dessas? Já que é super difícil fazer amizade com os ingleses, temos que dar nosso jeitinho brasileiro! 😉