Em uma classe com diversas nacionalidades, Hermés Galvão redescobre a pluralidade parisiense
A primeira semana de curso na France Langue foi um flashback afetivo. Havia mais de 20 anos não colocava os pés numa sala de aula e talvez uns trinta que não dividia minha “merenda” com os coleguinhas de classe, gente que veio dos quatro cantos do mundo e com diferentes propósitos para estudar francês, por trabalho ou por hobby, por estudo ou até por amor ao marido parisiense que se recusa a falar um simples “yes” dentro de casa – em comum, todos em sala temos a paixão pela língua e o desafio de fazer biquinho e não uma tromba ao dizer “beaucoup”!
Minha turma é um resumo de culturas, caras e bocas do planeta, uma aldeia global mesmo: há as risonhas chinesas, as japonesas supercompenetradas, a inglesa que tira suas dúvidas em sua língua natal, a alemã ultra-hipster de Berlim, a mexicana que ama cozinhar e já domina todas as técnicas de pâtisserie aprendidas na Le Cordon Bleu.
E tem a suíça superdiplomática, a saudita que ama joias e se veste como princesa, a italiana que nos ensina a falar francês com as mãos e… bem, e tem eu, o brasileiro que decepcionou a todos por não saber a escalação da seleção de futebol, por odiar caipirinha e, o mais grave, não conhecer Gisele Bündchen pessoalmente.
Fazer parte de uma turma de francês intensivo no coração de Paris tem sido das experiências de vida mais gratificantes; por mais rápido que seja o ritmo das aulas (e já se foi quase um caderno inteiro só na primeira semana), no fim do dia, depois de quase quatro horas de falatório e escrita, saio pelas ruas sabendo um pouco mais sobre tudo que está a minha volta.
A rotina da cidade, seus códigos e condutas, já não me soam tão estranhos: de uma conversa veloz entre adolescentes “bobô” à reclamação do padeiro, que fechou o tempo ao receber do cliente uma nota de 100 euros para pagar uma baguete, hoje eu já consigo perceber o que vem depois da primeira palavrinha “mágica” que todo mundo aprende sem nunca ter estudado francês na vida: “desolé”.
O melhor de tudo é que isso é apenas o começo. A seguir cenas dos próximos capítulos e com fortes emoções, pois Paris anda balançada depois dos atentados das últimas semanas. Mas digo com firmeza: a Cidade Luz não se apaga nunca.